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Proj.Peda.Creche S.J.M 2009/10

 

 

 PROJECTO PEDAGÓGICO CRECHE MORANGOSÒ S.J.MADEIRA 

ANO LECTIVO 2009/2010

 

 

 

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ÍNDICE

 

 

Introdução

1. Fundamentação

1.1 - A importância da Creche no Desenvolvimento e Bem-estar da Criança

1.2 - A Importância da Educação nos Primeiros Anos de Vida

1.3 - A Intervenção do Educador de Infância

1.4 - A Importância dos Pais na Creche

1.5 - A Afectividade como Princípio Básico de Toda a Acção Educativa (Vinculação)

 

2. A Creche

2.1 - Objectivos Gerais

2.2 - O Desenvolvimento do Bebé dos 4 aos 9 meses

2.3 - O Desenvolvimento do bebé dos 9 aos 24 meses

2.4 - O Desenvolvimento do Bebé dos 24 aos 36 meses

2.5 - Hábitos de Higiene e Alimentação (Rotinas)

2.5.1 - Controlo dos esfíncteres

2.5.2 - A Alimentação

 

3. Metodologia

3.1 - Organização do Espaço

3.2 - As Brincadeiras na idade de Creche

3.3 - A Importância dos Brinquedos

 

4. Plano Anual de Actividades

 

5. Projecto – A FAMÍLIA

5.1 - A Família – Breve história

5.2 - A Família e a Criança na Contemporaneidade

5.3 - Avaliação/ Reformulação

 

Referências Bibliográficas

 

 

 

Introdução

 

O mundo do bebé sustenta-se num universo distinto baseado no despertar dos sentidos. A sua viagem pelo mundo dos sentidos começa logo no útero, com as primeiras manifestações do tacto, olfacto, audição e até do sabor. Todos os bebés são sensíveis, comunicativos e atentos e desde muito cedo guardam tudo o que os ajuda a crescer. Mas é nos primeiros anos de vida que tudo se decide.

Quando nascem os bebés revelam vir “equipados” com características intrínsecas do seu próprio ser, do seu mundo intra-uterino. O bem-estar da mãe durante a gravidez é um aspecto revelador de que o bebé poderá estar bem. Ao transpor a barreira do mundo intra-uterino para o mundo mais complexo o bebé vai começar a buscar a peculiaridade do seu corpo, do seu próprio “eu” e só depois o “outro”, como ser social e o mundo dos objectos à sua volta. Vai aprender a “ser” e a “estar” com os outros. Vai entrar no próximo desafio que é o seu próprio crescimento a nível motor, cognitivo, linguístico, afectivo-social, arquitectando a sua própria personalidade.

Para além dos pais e do meio familiar, a creche, juntamente com todas as pessoas intervenientes, é um espaço que ajuda o bebé a despertar os seus sentidos e a visualizar o mundo de forma diferente, promovendo aprendizagens e desenvolvendo capacidades de forma particular e única, ajudando-os nesta tarefa tão complexa que é o Crescer.

Assim, a concepção de educação passa pelo reconhecimento de que:

- cada criança é um ser único, devendo dar-se muita atenção à sua individualidade;

- cada criança tem um ritmo de evolução que deve ser respeitado;

- é fundamental que se estimule a criança contribuindo para o desenvolvimento das suas potencialidades para a sua estabilidade, equilíbrio e segurança afectiva;

- é importante que se defenda uma educação que valorize a diferença e a aprendizagem através dessa diferença, rejeitando qualquer tipo de descriminação;

- a educação da criança deve ser feita no sentido da liberdade de escolha, igualdade de oportunidades, responsabilidade, participação activa, curiosidade/investigação, auto-estima, valorização dos outros e das suas potencialidades e inter-ajuda.

 

 

 1. FUNDAMENTAÇÃO

 

1.1- A Importância da Creche no Desenvolvimento e Bem-Estar da Criança

 

“A creche é uma realidade que está para ficar. O desafio está em torná-la uma realidade de qualidade.”

(Portugal, 1992)

 

Normalmente, considera-se que o melhor para a criança é permanecer junto da família, particularmente da mãe. Desde os trabalhos sobre a vinculação de Bowlby (1958) que se verificou um grande interesse pelo desenvolvimento psico-afectivo da criança, acompanhado de uma preocupação crescente acerca dos efeitos da creche sobre a criança dada a separação da mãe a que está sujeita.

Harlow (1969) também se interessou pelos efeitos da separação mãe/bebé e concluiu que o elemento mais importante nesta relação não era o alimento que ela proporcionava, mas o contacto físico.

Spitz (1979) considerava que a criança reage não ao estranho enquanto tal mas ao facto de este não ser a sua mãe. Considerava também que a separação mãe/bebé poderia ter consequências ao nível do desenvolvimento psicomotor, intelectual, dificuldades de adaptação ao meio e menos resistência à doença.

B. Spock (1969) recomendava às mães que permanecessem com os seus filhos o máximo de tempo possível. De acordo com Benjamim Spock a mãe é a pessoa ideal para cuidar e prestar atenção ao bebé.

Brazelton (1950) afirma que nos primeiros anos de vida duas mães não são tão boas como uma, enfatizando a ideia segundo a qual a separação afecta a criança em determinados comportamentos não objectivamente observáveis.

Gottfried e Gottfried (1994) dão-nos outra perspectiva chamando a atenção para a ambivalência acerca do emprego materno na nossa sociedade. Esta perspectiva fez com que as creches fossem consideradas um “mal necessário”.

Após vários estudos e pesquisas sobre a teoria da vinculação e sobre o papel da creche na sociedade de hoje, chegaram à conclusão que os efeitos da permanência das crianças na creche não são tão terríveis como inicialmente se supôs. No entanto, não podemos concluir que é uma situação sem riscos ou efeitos, pois tudo depende das características da própria criança, do seu meio familiar e do próprio contexto de creche.

Caldwell (1990) defende que hoje em dia não será possível dispensar os sistemas paralelos e suplementares de apoio e cuidados ás crianças, pelo que a preocupação deverá estar em melhorar estes espaços e primar pela qualificação das pessoas que lá trabalham. Tratar-se-á, pois, de um trabalho que deve ser realizado em parceria entre a Creche e a Família.

Em Portugal, as crianças estão a ir cada vez mais cedo para a creche ou para o Infantário e passam lá entre seis a onze horas por dia, durante cinco dias por semana. Estas crianças vão absorver modos de vida, valores, gostos e desejos diferentes dos da família e, em muitos aspectos, semelhantes aos de todas as crianças da sua idade que frequentam o mesmo estabelecimento de ensino. Estas vão adquirir hábitos alimentares, de sono e de aprendizagem muito semelhantes entre si. Desde muito pequenas estas crianças vão aprender as mesmas coisas, usar os mesmos brinquedos, conhecer as mesmas músicas, as mesmas histórias e as mesmas brincadeiras, vão participar das rotinas diárias, dos limites e regras estabelecidas para o grupo, enfim partilharão todo um novo mundo. Apesar disso, cada criança irá vivê-lo de maneira diferente, porque cada uma delas é diferente e não podemos de forma alguma anular a sua especialidade ou negar a sua individualidade. Devemos sempre ter em conta as necessidades, interesses e motivações de cada uma das crianças. Devemos aceitar que ao aprender com cada criança estaremos autorizados a entrar no seu mundo para a acompanhar nesta tarefa de crescer. Torna-se muito importante que a planificação dos serviços prestados ao bebé se apoie em dados científicos respeitantes às suas necessidades não só biológicas como também no que se refere ao nível do desenvolvimento cognitivo, linguístico, sensório-motor e, muito especialmente, sócio-emocional.

Lamb e Sternberg (1990) concluem que a permanência na creche não é necessariamente negativa para a criança – a maioria das crianças que a frequentam não difere muito das crianças que permanecem em casa. A qualidade dos cuidados prestados aos bebés tanto em casa como na creche é que será determinante e de importância crucial para assegurar às crianças as melhores condições de vida. Isto é também a promoção do desenvolvimento da criança e do seu bem-estar físico e psicológico que fazem desaparecer as dúvidas e inquietações legítimas dos pais.

 

 

1.2 - A Importância da Educação nos Primeiros Anos de Vida

 

O desenvolvimento integral e harmonioso da criança é fundamental durante os primeiros anos de vida, na primeira infância. Os estudos demonstram ser evidente a importância de uma educação adequada para o desenvolvimento da criança nesta fase da sua vida. Devemos ter em conta que a acção educativa está a ser levada a cabo sobre um sistema nervoso em formação, um psiquismo em construção e sobre uma personalidade em elaboração. A fase dos zero aos seis anos deve ser a etapa privilegiada da educação, pois os estudos relacionados com a psicologia mostram a importância decisiva que os primeiros anos têm na evolução posterior da personalidade.

É nestes primeiros anos que ocorrerá um período tremendamente fecundo e ao mesmo tempo crítico. Fecundo, porque nele se irão desenvolver as aquisições intelectuais, psicomotoras e afectivas, mecanismos formadores da personalidade que irão permitir à criança adaptar-se a uma sociedade extremamente complexa, assim como estabelecer relações harmoniosas com o seu ambiente familiar e social. Crítico, visto que cada aprendizagem tem o seu momento próprio de maturação na criança e as funções que não são desenvolvidas neste momento perdem-se, não permitindo uma boa integração de outras funções que aparecem posteriormente ao longo do desenvolvimento da criança por estarem baseadas em parte nas primeiras.

É evidente que para este desenvolvimento há a necessidade de haver estimulação e existem meios muito mais estimulantes que outros. Visto que o progresso da criança está relacionado com os estímulos que recebe, podemos afirmar que as suas capacidades são, em grande parte, resultado do meio ambiente e do grupo social e cultural em que nasce.

A tarefa educativa nos primeiros anos está dependente da responsabilidade dos pais como primeiros educadores dos seus filhos, na criação de um ambiente rico em estímulos mas também na acção de profissionais de educação capazes de “trabalhar” esses estímulos adequadamente com cada criança. Assim, mesmo que o ambiente familiar da criança seja pobre em estímulos de todo o tipo, o meio educativo pode suprir estas ocorrências e igualar as possibilidades das crianças. Nestes primeiros anos há uma enorme fragilidade ao nível do psiquismo da criança e os erros vividos nestas idades podem deixar marcas com frequência. Promover a aquisição da confiança em si própria é um aspecto estruturante para o alcance da auto-estima positiva da criança. Esta aceitação permitirá que a criança realize um desenvolvimento estável da sua personalidade. A aquisição de uma alta auto-estima pela criança depende da qualidade das relações existentes entre esta e aqueles que desempenham papéis importantes na sua vida. A criança tem necessidade de se sentir amada, querida, dignificada, segura, protegida, valorizada e respeitada. O atendimento a todas estas necessidades influenciará o seu pleno desenvolvimento.

 

 

1.3 - A Intervenção do Educador de Infância

 

Ser Educador é ter encontrado a sua identidade profissional, o sentido da sua vida na sociedade. Mas a profissão de Educador de Infância implica agir no trapézio da imprevisibilidade das circunstâncias complexas da interacção interpessoal e multicultural. Implica ser capaz de improvisar, não no sentido de colmatar a ausência do pensamento ou da preparação mas, no sentido de saber agir de uma forma pessoal e inteligente, criativa e crítica em função da situação contextual que se lhe apresenta.

O Educador é a pessoa que na actualidade e na maioria dos casos passa mais tempo com as crianças. Geralmente os pais trabalham o dia todo e a criança passa a maior parte do dia na creche ou no jardim-de-infância, porém, um não substitui o outro. O papel dos pais é fundamental e necessário para o desenvolvimento global e harmonioso da criança.

O desenvolvimento da criança é um processo de auto-conquista, de constante ultrapassagem de si mesmo que lhe permite tornar-se cada vez mais seguro da sua própria existência. Este processo é uma luta com vitórias e fracassos, com obstáculos a ultrapassar e a vencer. Apesar da liberdade que é proporcionada à criança, o Educador deve estar sensibilizado para a realidade da mesma e possibilitar-lhe um ambiente onde se sinta confiante e segura para estas “batalhas”.

Por parte do Educador deve existir sempre uma necessidade de saber cada vez mais sobre cada criança, de forma a permitir que esta se desenvolva e adquira aprendizagens significativas. O Educador deve observar, registar para conhecer as características intrínsecas a cada criança, poder satisfazer as suas necessidades individuais e desenvolver planos e actividades que as façam crescer, tanto a nível individual como da integração no grupo. Para tal é necessário também que o Educador tenha em atenção o ambiente familiar da criança e o meio social envolvente, de modo a que as vivências que a criança traz consigo não sejam desvalorizadas ou criticadas, mas sim devidamente respeitadas e compreendidas. Ao planear a acção educativa o Educador reflecte sobre as suas intenções e o modo como as vai aplicar e adequar a cada criança. O Educador deve ser capaz de adoptar uma postura construtiva consciente do desenvolvimento da criança e da necessidade profissional de controlar o ambiente como contexto potencializador de múltiplas aprendizagens. Ao frequentar a creche as crianças vão-se preparar para aprendizagens que aos adultos parecem muito simples e que, no entanto, são bastante complexas de efectuar.

Um bom educador é aquele que perspectiva a sua prática centrada na criança, estabelece um bom relacionamento e organiza os espaços e materiais tendo em conta que a criança em actividade se desenvolve e progride sozinha, através da sua acção e constante descoberta. Para além de ser um agente de desenvolvimento o educador é também dinamizador das oportunidades que cria para que a criança explore, formule questões e resolva problemas quer a nível de grupo ou individualmente. Ele procura novos caminhos, atitudes e estratégias que visam a mudança e evolução saudável, promotora de diversas aprendizagens em diferentes contextos. O Educador acompanhará, assim, a evolução de competências sensoriais e motoras da criança, assim como a sua capacidade de raciocínio, comunicação, desenvolvimento social e afectivo.

 

 

1.4 - A Importância dos Pais na Creche

 

Os pais, para além de serem os primeiros educadores, são aqueles que nos primeiros tempos vão guiar o educador estabelecendo o elo entre este e o seu filho.

Por outro lado, o educador pode elucidar os pais em determinados assuntos que ache pertinente e poderão assim discutir estratégias de acção em relação á criança. Assim, é de extrema importância que o educador procure a constituição de uma relação saudável e aberta com os pais e familiares mais próximos para que ambas as instituições educativas “trabalhem” no mesmo sentido e para o mesmo fim, com objectivos e expectativas inerentes a cada criança/filho.

É importante que desde o início a criança se sinta segura no novo espaço da creche e que sinta que existe uma harmonia nas relações entre os adultos. O educador, os auxiliares e os adultos da instituição creche não poderão ser pessoas estranhas á criança e as suas estratégias não poderão diferir muito daquelas utilizadas pelos pais. As crianças precisam de saber e sentir que são amadas, respeitadas e que as suas necessidades básicas são cumpridas. Precisam saber que estão em boas mãos e por isso é essencial que pais e educadores se juntem nesta missão de Educare – “edu” de educação e “care” de cuidar.

Assim, os educadores promovem oportunidades para que os pais:

- identifiquem e transmitam as características e necessidades individuais da criança, assim como avancem algumas estratégias que podem ser utilizadas em determinados momentos, com o fim de minimizar a “mágoa” da separação;

- tracem e estabeleçam, juntamente com o educador, estratégias para a educação da criança, para que não haja uma grande discrepância nas mesmas;

- se sintam envolvidos com a creche participando activamente em actividades programadas, festas, passeios e visitas e cooperem nos eventos da instituição;

- estimulem as crianças nas suas aprendizagens de forma a facilitar a aquisição de habilidades e competências através do manuseamento de materiais e interacção com diferentes espaços;

- se interessem por cada etapa do desenvolvimento da criança, tomando conhecimento dos problemas que aí se apresentam e procurem soluções adequadas para os mesmos;

- participem activamente nas reuniões pedagógicas para estarem informados das actividades, objectivos e estratégias que podem ser desenvolvidas, dando a sua opinião, partilhando ideias e colocando questões.

 

  

1.5 - A Afectividade como Princípio Básico de toda a Acção Educativa (Vinculação)

 

“A afectividade é o motor ou o travão da inteligência.”

(Piaget, 1972)

  

A criança é um ser em constante evolução com sentimentos próprios à sua idade e ao seu crescimento. A partir do momento em que nasce começa a tomar consciência do seu corpo, dos seus gestos, das suas expressões e dos seus sentimentos.

Desta forma a relação da criança com o mundo reveste-se de complexidades que envolvem emoções, sentimentos, vontade, cognição…é por um lado produto da sua inserção e adaptação ao mundo, por outro, dona de uma individualidade e autonomia através da qual se vai convertendo em agente activo do seu próprio desenvolvimento e transformação do mundo.

A afectividade joga na vida e na actividade da criança. Todas as suas motivações são emocionais. A sua afectividade básica deve estar totalmente satisfeita para que possa enfrentar os problemas que o seu próprio desenvolvimento lhe suscita. Daí a importância do equilíbrio emocional que o próprio adulto deve possuir e das atitudes que este assume perante a criança.

O desenvolvimento emocional está inteiramente relacionado com o desenvolvimento da inteligência emocional. Segundo Robert Cooper (2005), por inteligência emocional entende-se “a capacidade de sentir, entender e aplicar eficazmente o poder e a perspicácia das emoções como fonte de energia, informação, conexão e influências humanas.”

Daniel Goleman (1995) refere que a inteligência emocional e o QI (Quociente de Inteligência) não são competências opostas, são antes competências complementares. O ser humano nas relações que estabelece com os seus pares mistura estas mesmas competências: o lado racional e o lado emocional.

Assim sendo, as crianças que lidam bem com as suas emoções apresentam um maior sucesso escolar, são mais sociáveis, têm uma relação mais aberta com os pais e não são tão susceptíveis aos problemas escolares e aos transtornos de comportamento. A carência de educação emocional adequada pode levar a contrariedades, bloqueios, incertezas, inseguranças, frustrações perante a adversidade. A falta de educação emocional pode facilitar diferenças sociais e o descontrolo em situações adversas aos nossos anseios.

Para concluir podemos dizer que a criança que desenvolve a autodisciplina, que tenha capacidade de se motivar, de enfrentar tensões e resolver problemas, que tenha respeito incondicional pelos sentimentos, emoções e valores individuais tem grandes probabilidades de vir a ser um cidadão responsável e emocionalmente preparado para uma vida social sã e produtiva.

  

 

2. A Creche

 

2.1 – Objectivos Gerais

 

A creche deve ser organizada educativamente, em espaços e edifícios próprios, de forma a motivar o desenvolvimento da criança e não ser um mero “depósito” de crianças.

Estimular o desenvolvimento físico, a coordenação motora, o desenvolvimento sensorial e cognitivo, a função simbólica e a linguagem.

Fornecer o início dos hábitos de higiene e do relacionamento com os outros.

Respeitar o desenvolvimento integral e harmonioso de cada criança tendo em conta, como parte integrante desse processo, a colaboração e o contacto com a família.

Promover a inter-relação família/criança/creche.

Promover o contacto com as outras crianças num ambiente próprio que permita o desenvolvimento harmonioso das personalidades. As trocas entre ela vão permitir que o horizonte psicológico se alargue.

É a primeira preparação social para a escola elementar, tendo em atenção o respeitar os ritmos de cada criança.

A organização das actividades integra componentes diferenciadoras. O grande objectivo do trabalho é desenvolver na criança a confiança básica, confiança em si própria e nos adultos que a rodeiam.

As rotinas são flexíveis e individualizadas. Os tempos de cuidados envolvem alimentação, higiene e sono que emergem como momentos privilegiados de relação e afecto, momentos de troca de atenção e aprendizagem em que a independência e autonomia se exercitam.

Os bebés necessitam de tempo para explorar livremente, tempo suficiente, sem horários rígidos que permitam um investimento prolongado.

O dia a dia da creche, normalmente, é sem rigidez, combatendo o stress, promovendo experiências de aprendizagem que se inserem nos acontecimentos espontâneos do quotidiano feliz e sem pressas.

O contexto creche pretende-se agradável e estimulante e é estruturado de acordo com três níveis:

- segurança e saúde, onde se pretende satisfazer as necessidades físicas prevenindo doenças;

- funcionalidade, onde o espaço é adequado a diferentes objectivos funcionais e;

- conforto psicológico e satisfação estética, em que o ambiente faz face às necessidades de privacidade, estimulação sensorial, sentido de pertença, envolvimento  e apelos estéticos.

Tendo em conta a importância de um clima relacional rico afectivamente onde tudo é organizado de forma a partilhar, para que cada criança e família se sintam bem desde o primeiro encontro.

É necessário que a criança aprenda a utilizar os meios de comunicação de que dispõe, não só para receber informação, como também para se exprimir. Assim, os jogos são o veículo para melhorar as capacidades de recepção de informação da criança e uma das melhores formas de comunicar.

Os educadores têm consciência do papel essencial da sociabilidade no evoluir do indivíduo e sabem também que é no pré-escolar que este deve ser desenvolvido.

Assegurar, através da participação e empenho de todo o pessoal em exercício, um bom crescimento físico, psicológico, afectivo e social nas diferentes fases do desenvolvimento da criança, proporcionando-lhe a calma, segurança e alegria necessárias ao seu bem-estar na ausência da família.

É necessário obter a cooperação da criança na sua própria educação, mesmo ao nível espontâneo, através da expressão e da criação – uso do seu próprio corpo. Pela expressão corporal, a criança descobre a actividade gráfica, ou seja, a possibilidade de deixar “rastos” da sua acção.

A expressão sonora é, também, importante para o desenvolvimento da criança. É necessário para o seu enriquecimento entrar no mundo dos sons e consequentemente da linguagem.

Acompanhar as crianças durante o período de trabalho dos pais.

 

 

2.2 - O Desenvolvimento do Bebé dos 4 aos 9 meses

  

No quarto mês

O bebé começa a apalpar os objectos, aproximando-se do objecto que quer pegar.

Esconde o rosto nos lençóis, ri alto, volta a cabeça para olhar uma pessoa que o chama; começa então a orientar-se no espaço.

 

-Segundo Gesell

Na idade dos quatro meses o sistema neuromotor está tão desenvolvido que o bebé não se contenta já em estar sempre de costas.

Gosta que segurem durante períodos curtos, numa posição sentada, de maneira a poder encarar o mundo de frente. Nessa posição, pode levantar a cabeça. É essa a primeira componente da postura erecta que, daqui por mais um ano, o habilitará a andar sozinho. O comando da cabeça e dos olhos surge primeiro do que o comando dos pés.

O bebé de quatro meses conseguiu um domínio considerável sobre os seus pares de músculos que lhe permitem mover os olhos nas órbitas em todas as direcções. Fixa os olhos sobre a sua própria mão; desvia-os para um objecto próximo; persegue com o olhar um brinquedo pendurado que baloiça num arco de 180 graus. Os olhos estão a tornar-se ágeis.

O seu comportamento social, quer pessoal, quer interpessoal, expandiu-se largamente. Palreia de contentamento; ri baixinho; ri alto. Antes, apenas costumava sorrir a estímulos gástricos. Agora imita um sorriso social.

As mãos já não estão predominantemente fechadas, vão-se abrindo, e em breve serão capazes de agarrar.

A criança de quatro meses está, em regra, bem ajustada ao mundo das coisas e ao mundo das pessoas. Isso acontece, em parte, por ela colher uma satisfação tão grande do livre uso que faz dos seus olhos.

 

-Segundo Piaget

É durante o terceiro estágio que nós observamos o começo do que podemos chamar de intenção. O bebé parece começar a fazer coisas com um propósito.

O bebé de quatro meses irá tentar repetir e aos poucos aprenderá como controlar os movimentos dos seus braços, o suficiente para fazer com que, por exemplo um mobile se movimente.

O pensamento, aparentemente, não está presente no bebé pequeno, mas nós podemos começar a percebê-lo, numa forma bem rudimentar, por volta dos quatro meses.

 

No quinto mês

Ao quinto mês a criança colhe um objecto ao alcance de suas mãos, e manipula-o.

A criança já se conserva sentada com apoio.

A mudança para o estágio de sentar-se e o desenvolvimento da apreensão mudam, evidentemente, a “visão do mundo”. A criança pode daí em diante, ver o conjunto do corpo do outro e chegar à exploração espacial.

 

No sexto mês

Ao sexto mês a criança utiliza os objectos, e sobretudo o seu corpo.

Vai passar à alimentação sólida e a comer com colher.

Cerca dos seis meses o bebé não reconhece ainda um brinquedo familiar numa perspectiva pouco habitual, mas a multiplicidade dos exercícios de preensão aos quais se entrega no decurso do segundo semestre de vida leva-o, pelo fim do primeiro ano, a manter a constância da forma e das dimensões dos objectos vistos a distâncias e sob ângulos diferentes.

Sabe sentar-se na sua cadeira.

 

Do nascimento aos seis meses

A criança nesta idade imita, repete eventos produzidos acidentalmente e está iniciando o desenvolvimento do conceito de objecto – uma das pedras fundamentais do desenvolvimento cognitivo. Nas relações interpessoais a criança mostra, originalmente, ligações afectivas difusas, mas, ao final deste estágio, ela começa a mostrar uma forte ligação afectiva individual.

Algumas das mudanças observadas durante este período de seis meses têm uma base maturativa: o cérebro está a crescer, o sistema nervoso está-se a desenvolver, a criança está ganhando um controle muscular cada vez maior de partes do seu corpo, os ossos estão enriquecendo. O conceito de objecto não parece desenvolver-se automaticamente; as explorações e interacções com objectos e pessoas são necessárias, para que este conceito fundamental seja adquirido. E o conceito de objecto, por seu turno, é necessário para que a criança desenvolva a ligação afectiva singular básica.

A criança não se pode tornar ligada a uma única pessoa ou objecto sem que ela tenha compreendido, num certo nível, que há objectos singulares que permanecem os mesmos de uma visão para a seguinte e que estes têm uma existência contínua. Assim todas as mudanças desenvolvimentistas que nós podemos observar durante os primeiros meses de vida estão conectadas de uma forma complexa. O término dos seis meses parece ser um período muito importante, sob diversos aspectos. Várias mudanças interessantes têm lugar por volta desta época, o que sugere que, talvez, tenha ocorrido algumas mudanças fundamentais.

Em suma, nos seis primeiros meses ocorre, o desaparecimento da hipertonia dos membros, com surgimento da tonicidade axial (da qual é testemunho o porte da cabeça aos três meses, e o sentar-se aos seis). Ocorre ainda o aparecimento da motricidade lateral dos membros superiores; a atenuação do reflexo de Moro, em proveito dos reflexos tónicos de orientação; e o aparecimento do grasping (pressão global dos dedos flectidos sobre a palma, sem oposição do punho), após a preenssão . A coordenação da visão e dos movimentos das mãos, no espaço bucal, no quarto mês.

 

No sétimo mês

Pode levantar-se sem ajuda; tenta gatinhar; e pode dar a volta inteira partindo da posição de barriga para baixo.

Segundo Gesell, à necessidade de ver, segue-se a de mexer. Ou, antes, as duas combinam-se, pois o bebé de sete meses está decidido a manusear tudo aquilo a que pode deitar os olhos e as mãos. Quer esteja deitado de costas ou sentado na sua cadeira alta, precisa de ter qualquer coisa para manejar e levar à boca. Gosta de estar sentado porque está a adquirir o domínio dos músculos do tronco – mais um passo para conseguir chegar à posição de pé.

A criança absorve-se de tal modo na sua própria actividade que consegue entreter-se sozinho durante longos períodos de tempo. Mas também pode sorrir para os espectadores e mostra-se geralmente simpático tanto para os familiares como para os estranhos. Apresenta assim, um misto atraente de circunspecção e sociabilidade. Alterna facilmente entre uma actividade dirigida sobre si mesmo, e uma actividade socialmente orientada.

Nesta idade, as aptidões da criança estão bem equilibradas. Os seus esquemas e tendências de comportamento estão perfeitamente ajustados. A sua constituição harmoniosa quase não deixa lugar a preocupações aos que cuidam dele. É um período de equilíbrio de desenvolvimento de curta duração.

O bebé de sete meses tem de enfrentar numerosos problemas de postura, locomoção, manipulação e comportamento pessoal antes de atingir a idade de quarenta semanas.

 

No oitavo mês

Ao oitavo mês, a criança procura um objecto caído, brinca de esconde-esconde e de jogar os objectos longe.

Simboliza a presença e a ausência, a aceitação e a rejeição. Então a criança estabeleceu a permanência do objecto (e de si mesma), atingindo-se aqui uma fase importante. Ela coincide com o aparecimento, nesta idade, da crise de angústia distonica que o assalta quando a mãe não está perto, ou quando se apresenta – em lugar do rosto materno esperado – um rosto estranho que não a satisfaz.

A psicanálise genética (Spitz) vê nesta angústia do oitavo mês a prova de que se instaurou uma relação de objecto estável, isto é, uma relação com um objecto de amor, não somente investido, mas percebido e reconhecido.

A presença da mãe é agora desejada mesmo fora dos momentos de necessidade. A sua presença não é a de “alguém” - como no terceiro mês – mas personalizada e identificada.

A angústia do estranho aparece como o segundo ponto de estruturação da relação, depois da resposta do sorriso que funciona como o primeiro “organizador”.

É ao redor desta fase que se elaboram posições psicológicas importantes, cujos dois extremos serão a confiança na presença tranquilizadora, e o medo da intrusão “perseguidora”... É sensivelmente neste momento que se observa o primeiro reconhecimento alegre no espelho.

 

No nono mês

A criança já se mantém de pé com apoio.

Pega os objectos escondidos à sua frente, servindo-se de intermediários.

E paralelamente a este passo, a criança diz a sua primeira palavra de duas sílabas.

Aqui ainda não há uma alteração da visão do mundo, houve sim instituição da memória, da percepção do afastamento, do fora de alcance. Então a primeira palavra serve para dar nome a tudo.

 

 

2.3 - O Desenvolvimento do Bebé dos 9 aos 24 Meses

 

No décimo mês

Ao décimo mês, a criança já se põe em pé sozinha; bebe de uma copo; repete um som ouvido e interrompe um acto ao ouvir uma ordem.

Então agora vai aprendendo a falar de verdade, ao passo que já se instruíram as noções de defesa e de proibição.

 

-Segundo Gesell

Os horizontes alargam-se a cada passo na maturidade motora. O bebé de dez meses já é capaz de gatinhar, e isso alarga grandemente o campo das suas iniciativas e das suas experiências.

Mas, dum modo bem significativo, tende a manter a cabeça direita e a olhar em frente quando gatinha. Revela um interesse pelas superfícies verticais, às quais se apoia para se pôr de pé, pois o objectivo do seu desenvolvimento é a postura erecta. Vai-se aproximando desse objectivo, num controlo motor grosseiro dos grandes músculos; senta-se sozinho sem dificuldade e, apoiado, pode pôr-se de pé.

Agora a criança sabe avaliar melhor as suas possibilidades, pois entretanto organizaram-se incontáveis milhões de conexões delicadas na sua rede de fibrilas musculares e nervosas. A natureza está a aperfeiçoar-lhe de modo especial, a sensibilidade das pontas dos dedos, e ele sente uma propensão irreprimível para investigar, apalpar e “furar” os seus objectos com a ponta do dedo indicador espetado.

Distingue com maior nitidez os familiares dos estranhos. Imita gestos, expressões fisionómicas e sons. Obedece a um “NÂO”; repete “Dá, Dá!”. Mas, se agora bate palminhas para delícia de toda a gente, isso é devido não tanto ao ensino dos mais velhos, como do seu próprio desenvolvimento.

 

-Segundo Piaget

Ocorre algo novo e importante aos dez meses: o bebé compreende como usar estratégias antigas e familiares numa situação nova. De acordo com Piaget, há uma clara intenção por parte do bebé, para resolver algum tipo de problema e ele inventa uma estratégia para trabalhar. De início, ele não faz mais do que responder a algo que aconteceu acidentalmente. Depois o bebé faz acontecer.

 

Aos doze meses

Aos doze meses a criança, anda com a ajuda e diz já três palavras.

 

-Segundo Gesell

Aos doze meses, a terra deu já uma volta completa à roda do Sol depois que o bebé nasceu. Agora o bebé é capaz de meter um cubo dentro de uma chávena e tirá-lo de lá.

Do ponto de vista da orientação e educação, carece de ser apreciado em função do nível de maturidade das suas capacidades. Em geral, na idade de um ano é capaz de se deslocar sozinho, para a direita e para a esquerda, à roda do seu parque, mas para andar precisa duma mão a que se apoie e que o guie.

As capacidades motoras dos grandes músculos apresentam menor número de diferenças individuais do que o comportamento motor delicado e adaptativo.

Demonstra uma crescente perceptibilidade de relações; liga uma coisa com outra; segura num cubo e põem-no em contacto com outro cubo.

Também em situações sociais a criança de um ano começa a relacionar. Gosta de ter um auditório; repete as habilidades que provocam riso; diverte-se com toda a espécie de brincadeiras familiares que impliquem comunicação de uns para os outros. Esta reciprocidade social assenta na crescente perceptibilidade emocional que a habilita a ler com mais exactidão as emoções alheias.

  

-Segundo Freud

Freud diz que até aqui a criança se encontra no estádio oral. O primeiro contacto do bebé com o mundo é através da sua boca, e ele tem uma grande sensibilidade nesta.

Freud enfatizou que a região oral – a boca, língua e lábios - torna-se o centro de prazer para o bebé. A sua primeira ligação afectiva é com quem lhe forneça prazer oral, geralmente a sua mãe. Freud não assume que o bebé tenha um conceito de mãe neste estágio inicial, ou mesmo que tenha reconhecido que a sua mãe seja uma entidade separada da dele. Mas, há alguma ligação afectiva primitiva a ela que traz coisas agradáveis à boca.

 

-Segundo Henri Wallon

Wallon constrói o seu modelo de análise a pensar directa e concretamente no desenvolvimento humano. É no conceito de emoção que assenta o seu modelo, que é lugar de convergência do corpo e do espírito, do biológico, do psíquico e do meio envolvente. Esta orientação dá ao modelo de Wallon uma abertura, que abrange todo ser humano em toda a sua complexidade, de modo muito flexível, assentando também deste modo a noção de estádio numa definida mas flexível, constituindo-se quantitativa e qualitativamente a partir da predominância de um determinado tipo de comportamento.

A criança até ao um ano de idade encontra-se no estádio impulsivo e emocional, no qual se pode caracterizar por algumas características: estádio impulsivo de puros reflexos; preponderância de expressões, de comportamentos afectivos, que constituem o modo dominante do relacionamento da criança com a mãe e o meio familiar.

 

 

Dos seis aos doze meses

Enquanto a criança começa a criar a sua actividade instrumental, a individualização corporal permite começar a prever as impressões ligadas aos gestos; relações sistemáticas formam-se então. No entanto, a presença e a percepção de outrem é necessário para o reconhecimento dos órgãos. A criança trata dos seus próprios órgãos, de início, como estranhos, ou como se vivessem com uma personalidade própria, anexa ou justaposta.

O reconhecimento (e a atribuição a si, no espaço simbólico representado) da imagem do próprio corpo no espelho é um momento importante do processo de diferenciação subjectiva e de objectivação. É por volta do um ano, que a imagem especular é reconhecida como reflexo de si.

 

Os 24 meses

A mielinização do sistema nervoso está virtualmente completa aos dois anos de idade, e os ossos enriqueceram-se.

A linguagem começa a desempenhar um papel importante; aparecem as palavras e, por volta dos dois anos, são faladas sentenças simples de duas palavras.

 

-Segundo Piaget

A idade de dois anos, aproximadamente, é um ponto de mudança em uma série de aspectos. É por volta desta idade, como assinalou Piaget, que a criança torna-se capaz de manipular e combinar as suas representações internas rudimentares que por sua vez, são percursoras de um enorme crescimento cognitivo posterior. A linguagem também avança nesta época, talvez porque a criança tenha descoberto que as palavras podem ser usadas para representar as coisas, talvez porque o desenvolvimento neurológico tenha alcançado o ponto no qual a criança pode compreender os aspectos mais complexos da gramática. Aos dois anos há, também, uma mudança no relacionamento interpessoal, e a criança começa a voltar-se mais para os companheiros da mesma idade e menos aos adultos.

 

-Segundo Gesell

Aos dois anos, a criança está a sair da primeira infância. Desde os 18 meses cresceu cinco centímetros, aumentou quilo e meio e tem quatro dentes a mais. É capaz de correr sem cair; de virar uma a uma as páginas de um livro; de vestir uma peça de roupa; de segurar uma colher e levá-la à boca sem entornar; de construir uma frase de duas palavras e uma oração de três, é mesmo capaz de controlar a sua necessidade de ir ai bacio.

Há, porém, que fazer concessões à imaturidade do seu desenvolvimento. É quase ainda um bebé. O seu andar ainda não é perfeitamente seguro. Corre a direito sem qualquer experiência. Não sabe afrouxar a corrida, nem dar curvas apertadas.

Tende a exprimir com energia as suas emoções, dançando, aplaudindo, batendo com os pés, rindo sem motivo.

A coordenação motora delicada da criança de dois anos é claramente limitada por certas imaturidades selectivas do seu sistema nervoso. É capaz de construir uma torre de cinco ou seis cubos; mas não consegue dispô-los numa fila horizontal para construir um muro. Tem também dificuldade em fazer um risco horizontal com um lápis, muito embora copie com a maior facilidade um traço vertical.

Na esfera do comportamento social revelam-se limitações análogas de desenvolvimento. Tem um forte sentimento do meu., mas um sentimento muito débil do teu. É capaz de juntar, mas não é capaz de repartir. Apesar disso não se devem perder todas as esperanças, pois também é capaz de sorrir a um elogio e de curvar a cabeça a uma censura.

 

-Segundo Freud

O estádio anal, segundo Freud, vai dos dois aos três anos.

Na medida em que a maturação prossegue, o tronco inferior torna-se cada vez mais sensitivo na região anal, e a criança começa a sentir prazer com os movimentos intestinais, tanto em si mesmos quanto pela eliminação de um desconforto. Mais ou menos ao tempo em que sensibilidade anal do bebé aumenta, os seus pais começam a colocar uma grande ênfase sobre o treinamento de ir à casa de banho e a mostrar prazer quando ele consegue-se desempenhar no lugar e horário apropriado. Estas duas forças em conjunto ajudam a mudar o centro principal da energia sexual da zona érogena oral para a anal.

 

-Segundo Henri Wallon

O estádio a que Wallon diz estar a criança desde o primeiro ano até agora aos três, é o estádio sensório – motor e projectivo. No qual inicialmente a actividade da criança recai sobre si mesmo, e progressivamente recai sobre os objectos, pessoas, os acontecimentos, e as suas interacções.

Wallon refere que é nesta idade que nasce a imitação e simulacro, e também o nascimento da representação.

 

  

2.4 - O Desenvolvimento da Criança dos 24 aos 36 Meses

 

Aspecto sócio-afectivo

No segundo ano de vida as crianças começam a descobrir-se umas às outras. Essa relação pode ser baseada na amizade ou, na disputa dos brinquedos, que cada uma acha serem somente seus. Nesta altura a criança já deve ter interiorizado o conceito de partilha para evitar uma personalidade egoísta no futuro. As emoções devem ser descritas e explicadas. A tristeza, o medo, a alegria, a irritação são expressões que a criança deve começar a distinguir. As demonstrações já são mais fáceis (para a criança de serem compreendidas), pois em principio o seu lar deve ser coberto desta harmonia de afecto e carícias. A idade dos 2/3 anos marca verdadeiramente o início da socialização. A partir dos 2 anos e meio todas as crianças brincam lado a lado com as outras crianças mas não com elas (jogos paralelos) e muitas vezes têm gestos agressivos para com os outros. Uma boa socialização da criança depende do grau de afecto e segurança que sente na família. A criança que à entrada na creche ou no jardim-de-infância aceita melhor a separação momentânea dos pais é sem dúvida a que com eles mantêm melhor relação. Segura do lugar que ocupa no afecto dos pais adapta-se muito melhor a um ambiente desconhecido, a caras e ritmos novos. Portanto uma grande parte do bom desenvolvimento depende do factor afectivo e o seu crescimento só é satisfatório, mesmo em peso e em altura (aspecto físico) se a criança for amada e estimulada.

 

Aspecto cognitivo

A aquisição da linguagem é um dos aspectos mais importantes no desenvolvimento da criança. Aos 2 anos a criança constrói pequenas frases de duas ou três palavras; utiliza muito poucos pronomes e artigos mas já conhece 100 a 200 palavras. No entanto o vocabulário da criança de 2/3 anos aumenta rapidamente no que diz respeito a nomes e objectos; descreve os objectos familiares e identifica-os. Fala sem parar e às vezes faz perguntas. É nesta idade que a criança constrói a sua personalidade, por isso é uma fase em que criança se afirma e diz não a tudo. É a idade das birras e do egocentrismo «só pensa nela, tenta impor a sua vontade, e recusa-se muitas vezes a seguir as indicações e desejos dos pais. A sua vida emocional está cheia de contradições e diferentes estados de humor. Passada alegria e descontracção à apatia ou desânimos súbitos. Estes humores são expressões dos conflitos internos da criança que se encontra num estádio passageiro. A importância conferida ao desenvolvimento cognitivo, fez centrar a atenção na aptidão da criança para generalizar, formular ideias, resolver problemas. O desenvolvimento destas aptidões cognitivas depende intimamente do domínio da linguagem.

 

Aspecto motor

A criança nesta fase ainda muitas dificuldades a nível motor no entanto já possui equilíbrio para se deslocar e movimentar livremente. Sobe para uma cadeira, corre e sobe as escadas agarrada ao corrimão. Consegue brincar numa estrutura simples e puxa brinquedos com rodas e pára para apanhar um brinquedo sem cair. À medida que o equilíbrio da criança aumenta ela deixa de andar “à pato” e consegue falar e transportar coisas enquanto anda. Pode tentar saltar, mas ainda não se afasta do chão. Nesta idade 2/3 a criança ainda tem os movimentos e uma coordenação motora muito descoordenados.

 

  

2.5 - Hábitos de Higiene e Alimentação (Rotinas)

 

 

2.5.1 - Controlo da bexiga e esfíncteres

O controlo da bexiga e dos esfíncteres varia muito de criança para criança. É errado pensar que existe uma idade própria para esse acontecimento. Esse momento só acontecerá quando o cérebro, nervos e músculos do bebé estiverem suficientemente desenvolvidos. Antes dos 15-18 meses, os nervos e os músculos raramente atingiram este estado de maturidade.

Antes desta idade é aconselhável não “obrigar” a criança a ir para o bacio. Se ela não estiver pronta isso só contribuirá para lhe criar sentimentos de recusa – e as crianças acabam sempre por vencer.

Aos 18 meses a bexiga e os nervos estão suficientemente desenvolvidos para que a criança consiga avisar com mais antecedência sobre a sua vontade, mas não podemos esquecer que o “sistema” não está ainda “afinado”.

Por volta dos 21 meses a criança deverá passar por uma fase de maior frequência de micções.

Aos 24 meses já pode ir ao bacio sozinho e orgulha-se desse facto.

O controlo intestinal é, de forma geral, mais precoce que o da bexiga, mas o limiar de variabilidade da sua aquisição é mais amplo. Assim, tal como no controlo da urina, o melhor será deixar a criança descobrir o seu próprio ritmo.

Só a partir dos 18 meses é que a criança se senta no bacio e começa a mostrar-se desejosa pela limpeza e pela sua independência.

 

  

2.5.2 - A alimentação

A alimentação é uma necessidade básica para qualquer ser humano. No recém-nascido, o leite materno é o alimento mais aconselhado, pois além de ser o mais equilibrado em termos nutricionais é também uma fonte de anticorpos, que protegem o bebé das doenças nos primeiros meses de vida.

Por volta dos 4 meses o leite deixa de ter exclusividade na alimentação infantil, passando a ser usado apenas numa das refeições. Aos poucos, e sem insistir, podemos introduzir outros alimentos na alimentação diária do bebé: 1º o puré de legumes; 2º a fruta; 3º a carne; 4º o peixe; 5º os ovos.

Todos os alimentos deverão ser introduzidos com uma ou duas semanas de intervalo para que a criança se “habitue” ao novo alimento e para que se possam detectar quaisquer alergias.

É preciso ter em atenção que os bebés não são todos iguais e que a introdução ou não de determinados alimentos pode variar conforme a sua estrutura e desenvolvimento.

Aos 4 meses começam-se a introduzir as papas lácteas sem glúten e os caldinhos de legumes (batata, cenoura e cebola) com carne passada. Maçã ou pêra cozidas.

Aos 5 meses podemos introduzir novas carnes e novos legumes.

Aos 6 meses já pode comer papas com glúten, experimentar novas frutas excepto os citrinos, morangos e frutos silvestres. Já pode comer iogurte natural.

Entre os 7 e 9 meses pode-se introduzir o peixe branco e o ovo (apenas a gema). A sopa começa a ser mais granulada e o puré de fruta pode ser substituído por fruta esmagada com um garfo.

A partir dos 12 meses a criança passa a adoptar a dieta da família. Já pode beber leite de vaca, comer um ovo inteiro, mas a comida deve ser sempre pouco condimentada.

 

 

3. Metodologia

 

3.1 – Organização do Espaço

Prepara o espaço, criar um ambiente de aprendizagem para cada criança e para o grupo específico de crianças, constitui-se, no ambiente de Creche, como uma das mais importantes acções do educador.

A preocupação com o espaço e com os materiais está interligada com a criação de um ambiente de aprendizagem que garanta a igualdade de oportunidades para todas as crianças, no respeito pelos interesses e características individuais e na facilitação do alargamento destes interesses.

Uma sala de actividades de orientação cognitiva precisa de espaço. O arranjo do mesmo afecta tudo quanto a criança faz; o grau de actividade, as escolhas, as relações com as outras pessoas e o modo como utiliza os materiais.

O espaço é fundamental para uma aprendizagem activa. O arranjo da sala reflecte a crença de que as crianças aprendem melhor num ambiente estimulante mas organizado, no qual podem fazer escolhas e agir sobre elas.

O material e equipamento devem harmonizar-se de tal forma que proporcionem um ambiente aconchegante e familiar. Tanto os materiais como os equipamentos devem ser escolhidos em função das idades das crianças, sendo concebidos de modo a que possam cobrir convenientemente as necessidades, fomentem a criatividade, aumentem a capacidade de adaptação, autonomia, imaginação, etc.

 

 

 

3.2 – As Brincadeiras na Idade de Creche

O bebé, desde muito pequeno, se é estimulado com pequenas e simples brincadeiras, expressa através do seu corpo momentos de prazer, de intimidade, de interactividade com o adulto que lhos proporciona. Entra no reino do jogo.

O sentido mais profundo dos jogos infantis é o empenho de todo o seu ser, dos seus instintos, actos, sentimentos e pensamentos.

O jogo é uma função essencial da vida da criança; o seu desenvolvimento motor, físico, emocional, afectivo e psíquico encontram pela via do jogo o seu principal suporte.

A criança joga brincando e brinca jogando. O brinquedo existe sempre e tem um papel a cumprir. Quando não existe, a criança inventa-o. Quando não convém, a criança recria-o. A fantasia cria as regras para o brinquedo, o qual não passa de um simples veículo da aprendizagens.

Brincar é o ofício da criança e o brinquedo tem um papel insubstituível para o desenvolvimento pleno da criança. Por isso, o brinquedo tem de requerer determinadas qualidades, de acordo com a idade da criança a que se destina.

O bebé é essencialmente sensível a um contacto alegre e descontraído, calmo. Os brinquedos para esta etapa não necessitam de ser complicados ou caros, visto que o seu valor lhe é conferido pela imaginação da criança.

No entanto, não devemos esquecer que a criança também deve alargar os seus horizontes, para isso é importante o contacto com outros espaços como a rua e o jardim. A passear descobre um mundo novo, diferente do da sua casa ou creche, que lhe estimulam a curiosidade e a ânsia de experimentar e aprender.

  

  

3.3 - A Importância dos Brinquedos

O brinquedo é muito mais que um objecto colorido que mexe ou que faz barulho. É algo que interage no processo de criatividade, em que a criança estimula a sua imaginação, a sua actividade e o seu espaço de experimentação. É a brincar que a sua personalidade se desenvolve e é através dos brinquedos que experimenta as suas capacidades de aprender e apreender coisas novas.

Por isso, para que as crianças possam tirar o maior proveito do acto de brincar, os brinquedos devem ser escolhidos com muito esmero, carinho e tempo.

À medida que se desenvolvem, as crianças passam a requerer novos estímulos e é evidente que a escolha dos brinquedos terá que reflectir essas necessidades. Uma criança muito pequena precisa de brinquedos que lhe estimulem todos os sentidos.

Os mais adequados a bebés com menos de um ano são os que facultam a experiência das cores, texturas, materiais e formas. Os brinquedos que fazem barulho e respondem a acções, como as rocas, dão à criança uma sensação de controlo e encorajam a manipulação e coordenação.

Por volta dos dois anos, as crianças adquirem a noção de rotação do pulso que lhes permite desaparafusar e abrir os fechos das portas. Os brinquedos com tampas de desatarraxar, os blocos de encaixe e os painéis de blocos de várias formas, são excelentes.

Deve-se ter em conta que o brinquedo terá que ser:

-         estimulante, o melhor brinquedo é aquele que incita à estimulação, desperta os seus sentidos e permite exercitar as suas habilidades;

-         versátil, as crianças preferem as coisas que servem para brincar de diferentes maneiras. É a criança que deve manusear o brinquedo e não o brinquedo a fazer tudo sozinho;

-         resistente, brincar mais não é que fazer experiências e, no seu laboratório, as crianças submetem os seus brinquedos a provas duríssimas;

-         seguro, é um requisito imprescindível. É preciso ter a garantia que o brinquedo não vai comprometer a segurança das crianças;

-         diferente, há crianças que têm muitos brinquedos e por muito que gostem de um determinado tipo de brinquedo ou actividade, de certeza que adorariam ser surpreendidos com uma novidade;

-         apropriado, as crianças, normalmente,  sabem muito bem quilo que querem, mas isso não implica que se respeitem todos os seus desejos. Os pais devem comprar brinquedos que sejam adequados ao desenvolvimento e à idade da criança;

-         do agrado da criança, é com toda a certeza a premissa principal. Para conseguir acertar neste ponto, os pais devem observar como brinca o seu filho e comprar a pensar nele, na sua personalidade e nas suas possibilidades;

-         ocupacional, alguns brinquedos parecem divertidos à primeira vista mas, na prática, resultam tremendamente aborrecidos. Um brinquedo que entretenha a criança não é aquele que a mantém calada durante muito tempo.

É igualmente benéfico que a criança fique um pouco sozinha mas, por muito agradável que seja o brinquedo, nunca poderá substituir os pais.

 

 

4. Plano Anual de Actividades

Mês

 

Actividades

 

Conteúdos

 

Observações

 

 

 

Setembro

Organização das salas e materiais

Adaptação das crianças aos educadores, espaço e tempo da instituição

Reunião de pais

 

Áreas, regras gerais e específicas, material e denominação.

Execução de Placards (aniversário, responsabilidades, etc.).

 

 

 

Outubro

 

Introdução e exploração da Temática “Família” através do “CD1 MoranguiÒ A Família”

 

Quem sou eu – Árvore genealógica

 

O que é a Família

Conhecer diferentes organizações familiares

Conhecimento do “eu” na estrutura familiar

 

Introdução dos suportes didácticos do Grupo MorangosÒ: CD “Vamos brincar com o MoranguiÒ – A Família”

 

Novembro

 

 

 

 

 

Lenda de S. Martinho

Dramatização da Lenda de S. Martinho pelas Crianças

Festa e convívio de S. Martinho com os pais e familiares das crianças

 

Conhecimento da lenda de s. Martinho.

Inserir a família nas vivências da instituição

 

 

 

Festa do Magusto no espaço exterior com os grupos de crianças, adultos e familiares ligados à instituição.

 

 

 

 

Dezembro

 

Ida ao Circo;

Decoração da instituição e Árvore de Natal

Elaboração do Presépio

Festa de Natal.

 

Características gerais da época e sua simbologia (Pai Natal, Menino Jesus, família, sentido de partilha e solidariedade).

A Família do menino Jesus

O pai, a mãe e os avós

 

 

 

Janeiro

 

Elaboração de instrumentos de música simples com a ajuda dos pais

Cantar as janeiras nas salas da instituição e pela vizinhança

 

Vivência das tradições culturais

Observação da constituição e habitats de famílias reais

 

Introdução dos suportes didácticos do Grupo MorangosÒ: LIVRO: “Sonho na Terra dos Morangos”

 

 

Fevereiro

 

Execução de fantasias e máscaras com a colaboração dos pais

Desfile/Corso carnavalesco

 

Exploração do Carnaval e suas características simbólicas

Exploração dos momentos partilhados/fotografados com os familiares

 

 

 

Março

 

Execução de uma prenda para o Pai

Festa do dia do Pai

Comemoração do dia Mundial da Árvore

 

 

O Pai no seio familiar – exploração dos papéis legados e actuais do homem na família

Apresentação/exposição dos trabalhos realizados pelas crianças sobre a família até aqui

 

 

 

Abril

 

Comemoração da Primavera

Palestra sobre o Ambiente aberta aos pais e à comunidade

 

Sensibilizar a família para os eventos da instituição

Os irmãos e os netos

 

 

Maio

 

Execução de uma prenda para a Mãe.

Festa do dia da Mãe

 

A mãe no seio familiar – exploração dos papéis legados e actuais da mulher na família

 

 

 

Junho

 

Festa surpresa para as crianças – Dia Mundial da Criança

Introdução do “Jogo dos Direitos da Criança”

 

Comemoração do dia da Criança

Exploração lúdica dos direitos da criança – o direito a ter uma família

 

 

 

Julho

 

Festa de Finalistas.

Manhãs de praia

Reunião de pais

 

 

Conhecimento de espaços diferentes (culturais, desportivos, lúdicos, pedagógicos, etc.).

Actividades Temáticas da Academia

 

Saídas efectuadas mediante o programa a apresentar pela Academia Morangos

 

  

 

5. Projecto – A FAMÍLIA

 

5.1 – A Família – Breve história

Para falarmos da Criança e do seu lugar na sociedade contemporânea, será importante refazermos o percurso das suas representações legadas historicamente, as marcas ou achados que nos permitem situar o “surgimento” da categoria social Infância.

A construção histórica da infância é o resultado de um longo e complexo processo: de representações produzidas sobre as crianças, de reestruturação dos lugares que ocupa no dia a dia, das formas de vida evidenciadas e muito especialmente das modificações das estruturas familiares e da mobilização de organizações sociais ou institucionais para as crianças.

A Infância ou a ideia de Infância não existiu sempre, embora sempre existissem crianças. Fazendo a viagem até aos tempos ancestrais ou “quando não havia crianças”, Neil Postman (1994) pensa justo concluir que os gregos deixaram não mais que uma “sombra” da Infância e salienta também o papel que os romanos tiveram na ligação entre a criança em crescimento e a ideia de vergonha, patenteada na sua arte reveladora de um senso da idade das crianças e dos jovens.

Na Idade Média, o grupo de pessoas a que hoje em dia damos o nome de família era muito indefinido, ele desempenhava o papel de um grupo público onde não se questionavam as invasões na privacidade familiar ou na sua intimidade, simplesmente porque eram praticamente inexistentes fronteiras entre o papel desempenhado pelos membros familiares, entre si e para com os grupos da sociedade. A família era mais uma realidade moral e social do que sentimental (…) (Vilarinho, 2000:22). Na Idade Média as crianças eram como seres sem autonomia e sem estatuto social ou, numa palavra, invisíveis. A sua presença só era notada ou apropriada pelo universo masculino quando eram já capazes fisicamente para o trabalho, para o casamento ou para a guerra (Postman, 1994: 18).

Segundo os estudos efectuados por Ariés (1988) a redefinição do papel da família, e as suas representações na sociedade, operou-se a partir do dealbar da modernidade e constituiu um factor decisivo para a tomada de consciência da Infância na civilização europeia ocidental. Mas esta visibilidade da Infância não trouxe imediatamente o valor afectivo de que hoje em dia as crianças são possuidoras. O sentimento de Infância, segundo Ariés (1973), passou por distintas fases, desde a sua ausência à tomada de consciência no seio familiar e social. A criança medo, a criança transtorno, e a criança brinquedo são alguns dos termos que nos dão uma ideia desta evolução (Vilarinho, 2000:24).

No séc. XVIII surge uma preocupação na defesa de um universo de relações privadas, as relações na família começam a ser vistas de forma separada das relações estabelecidas em sociedade. A criança começa a ter uma maior visibilidade, inserida num grupo mais restrito de adultos responsáveis pela sua educação e instrução. O discurso filosófico de Descartes, em meados do séc. XVIII, anunciava a necessidade dos adultos se libertarem da convivência com o mal (as crianças), mais tarde John Locke apresenta a criança como uma tábua rasa onde os adultos tinham a obrigação de inscrever os conhecimentos necessários para que chegassem a uma vida adulta ou a comportamentos ajustados a ela. Embora ténue, surge aqui o sentimento de obrigação dos entes mais próximos da criança sobre a educação e protecção da criança, embora para Locke educar a criança constitua um simples “processo de adição” (Postman, 1994).

 A consciência social da existência de um capítulo chamado Infância na vida de todos os indivíduos foi estabelecida com o Século das Luzes (Ariés, 1988). A ideia da Infância é mesmo considerada como uma das grandes invenções do Iluminismo que atravessou as fronteiras nacionais e trespassou o tempo cronológico. Nesta altura foi ainda prejudicada pela industrialização desenvolvida no séc. XVIII que, segundo Postman, foi uma constante e formidável inimiga da Infância (1994: 53), já que levou as crianças ao trabalho manual nas fábricas, mas também impulsionada, por exemplo com a proibição do emprego das crianças nas minas em Inglaterra, que apesar de dizer respeito apenas às crianças com menos de dez anos vinca já uma posição de inequívoca afirmação do grupo social Infância na sociedade da época. É nesta altura, em que as crianças começam a ser excluídas de certos contextos da vida social, que se torna emergente a criação de um lugar para elas, a criação de uma Infância a que Neil Postman (1994) chama de “artefacto social”.

No final do séc. XVIII, Rousseau reconhece a criança numa acepção moderna, sendo um ser inocente e natural que não se poderia deixar corromper pela sociedade. Insistindo primeiramente na importância da criança por ela própria e não como um meio para determinado fim e depois na importância da vida intelectual e emocional da criança. Para Rousseau, a “Criança Selvagem” constituía um referencial para as formas elementares de organização social que oferecia uma hipotética estruturação sobre a condição do ser humano nos processos sócio-culturais. A criança é vista como contraponto ao ser adulto, ao seu estado de diferença não-apreendida noutras idades, mas à qual devíamos estar atentos, tomando em conta o que ela é antes de se tornar adulta, para assim se aprender mais sobre as crianças e se poder fazer o “processo de subtracção”, ao contrário das ideias de Locke de que atrás se falou.

Entre o fim do séc. XVIII e o séc. XIX, aliando os progressos médicos e as ideias economicistas, começam a tomar-se medidas pelo combate à excessiva mortalidade infantil que então se verificava. O papel da mãe tornou-se central nos cuidados que deveria proporcionar à criança e ao seu lar: (...) se o homem preferir o exterior, as luzes do cabaré, se as crianças preferirem a rua, seu espectáculo e suas promiscuidades, será culpa da esposa e da mãe (Donzelot, 1986: 46, in Vilarinho, 2000:35). Com esta ideia é valorizado o papel da mãe e da criança. O ‘amor maternal’ como central no grupo familiar deu um grande impulso na evolução da concepção de Infância e do papel das crianças.

No final do séc. XIX e início do séc. XX, assiste-se progressivamente a uma valorização do papel social da Infância para o futuro e progresso das sociedades através dos cuidados que deviam ser prestados às crianças. Passa também a ser legítimo que o Estado intervenha na esfera familiar, principalmente quando se assume a Infância como etapa determinante no desenvolvimento do ser humano. A educação e os cuidados prestados às crianças na família são então considerados como fundamentais para o seu pleno desenvolvimento. Para esta situação muito contribuíram os trabalhos de Jean Piaget, Henri Wallon, Sigmund Freud e John Dewey que, segundo Postman (1994), tomados no seu conjunto, representam uma síntese e um sumário da Jornada da Infância do séc. XVI ao séc. XX.

No período da Revolução Industrial, que leva a mulher (mãe) a trabalhar cada vez mais fora de casa, surgem necessariamente novos contextos de atendimento à infância, quer médicos, assistenciais, quer com função de guarda ou serviços educativos. A escola pública surge também como um importante elemento delimitador da função educativa da família, até aqui exclusiva, e “separa” as crianças das suas famílias cujas funções educativas/formativas sofreram alterações que assumiram novos contornos até aos dias de hoje (Mead, 1977). A separação ou exclusão das crianças de certos domínios sociais dão-se, em quatro espaços estruturais da sociedade (Santos, 1999): no espaço da produção, no espaço doméstico, no espaço de cidadania e no espaço comunitário, pela transferência das vinculações do domínio doméstico no início da modernidade, para o domínio comunitário onde é realizada também a “educação oculta” (Corsaro, 1997). Este período será então o primeiro marco na institucionalização das crianças e da Infância.

 

 

5.2 - A Família e a Criança na Contemporaneidade

Será fundamental esta análise das razões históricas para o surgimento ou visibilidade da Infância, das bases que geraram a imagem da criança e dos arquétipos da história e da linguagem, pois a constituição da criança é um problema fundamental das formulações sociológicas da vida colectiva (Jenks, 1997:191). A Infância é vista como uma construção social, já que é referente a um estatuto social delineado por limites que podem ser diferentes em tempos diferentes, dizendo respeito a um contexto cultural particular, mas que fazem parte da estrutura social e se manifestam por condutas também construídas diferenciadamente. Estas construções da Infância são negligenciadas por diversas perspectivas, interesses e disciplinas que definem a Infância ainda hoje como uma fase, um processo estruturado de “vir a ser”, e não como um processo de acção prática ou social corrente e eficiente. Esses processos de “vir a ser” encontram legitimidade nas teorias da socialização. As teorias clássicas de socialização da criança consideram a Infância como uma fase da vida onde, em sede própria e com pessoal especializado, são inculcados os mecanismos que preparam o comportamento da criança, de forma a que ela seja munida de competências que lhe permitam participar nas actividades adultas. Para Durkheim a Infância é uma geração “a socializar”. Para Parsons é o sistema social que enforma e dita a prática social da criança. Para Piaget a criança está num permanente estado de adaptação e reequilíbrio no seio da sociedade. Para estes autores, a criança constitui-se socialmente de forma a que as suas aprendizagens permitam a interiorização das bases fundamentais das noções de ser humano, da acção social e da ordem estipulada, com o apoio das linguagens e racionalidades apreendidas em sociedades ou contextos particulares.

Mais recentemente, o conceito de socialização da criança é objecto de crítica e revisão teórica, sendo vista como um processo de reprodução interpretativa da realidade social, onde as crianças interferem quer na apropriação da cultura, quer na produção dessa cultura e, nesse processo, para a modificação da realidade social em que se inserem. Nesta abordagem interpretativa da socialização na Infância (Corsaro, 1992) não se considera que a criança simplesmente imita os comportamentos adultos por interiorização de normas, valores e condutas de determinada cultura ou sociedade. Considera-se, sim, que as crianças são agentes activos e criativos no exercício da sua actividade social, transformando e reproduzindo de formas diversas a realidade que a envolve, negociando com os adultos e os seus pares e desenvolvendo novas formas comunicacionais, linguísticas, de discurso e de acção que são acrescentadas na cultura adulta dominante (Buckingham, 2002).

Às instituições de ensino cabe a organização curricular, prático-pedagógica de forma a oferecer, cada vez mais, desafios que levem a uma aprendizagem de alto nível, ao proporcionar, programadamente, o acesso a vias de comunicação e informação que permitam à criança estabelecer um confronto com a realidade, dando-lhe um novo significado. Esta acção poderá proporcionar a constituição da criança como elemento com possibilidade de encontrar soluções para as crises que hoje emergem.

Muitas vezes, o conhecimento sistematizado encontra resistências por constituir-se como elemento desarticulador das ideias, imagens e conceitos, confortavelmente acomodados, nas estruturas do pensamento infantil. Este facto sugere a necessidade de envolvimento e atitude responsável de toda a estrutura escolar, a fim de desencadear uma nova dimensão educativa que contemple a aprendizagem da criança respeitando as suas características cognitivas. Segundo BIZZO (2001: p.33), a mudança na prática pedagógica implica em reconhecer que não é apenas o professor que deve modificar a sua forma de ensinar, mas que uma série de ordenamentos na escola e na comunidade devem ser considerados ao mesmo tempo no sentido de sua transformação.

Entendendo a família como um sistema no qual interagem o indivíduo e sociedade, portanto espaço socialmente construído nas relações quotidianas, que são permeadas por actividades económicas, sociais e políticas, propõe-se a superação da visão antropocêntrica e de fragmentação, por uma visão holística e sistémica e, portanto, interdisciplinar; a partir de uma prática que, encarando a família como pertencente ao quotidiano, aborde desde as primeiras representações até às relações mais elaboradas, considerando a inclusão da família, na sua estrutura, diferenças e contradições como elemento importante no processo de socialização e aprendizagem.

Diante destas questões não podemos crer que, somente o oferecimento de materiais concretos e relatos de experiências vivenciais, possam dar conta da aprendizagem real dos conceitos envolvidos área de conhecimento do mundo adequada às classes pré-escolares. O que se procura é um novo fazer que considere a necessidade das explicações pautadas de verdade cientifica acopladas a uma prática que respeite as características pessoais e cognitivas, possibilitando a construção de conceitos intimamente ligados as vivências infantis, fornecendo à criança uma aprendizagem de qualidade e consequentemente duradoura.

Para tanto, cabe ao educador, em consonância com as directrizes temáticas propostas no currículo em que está envolvido, agendar objectivos, temas e acções que possam garantir a riqueza das aprendizagens previstas. Será necessário que, envolvido com esta prática, o educador encontre nela significado.

Sendo assim, o professor deve manter-se atento e disposto a ouvir e observar as manifestações das crianças, desencadeando um diálogo instigante, ligando factos e coisas, comuns ou não a fim de alargar os caminhos do raciocínio infantil e levar as explicações para outro patamar. Segundo SEBER (1997: p.232), vale devolver às crianças argumentos, colocar perguntas desafiadoras e, ao mesmo tempo, ajudá-las a contrapor o seu ponto de vista a outras perspectivas.

Conformando este pensar, TRISTÏ (2002: p.174) entende que os educadores como mediadores reelaboram, dão um novo significado às informações diárias que recebem. Neste sentido, não é suficiente que o aluno tenha todas as informações, mas que aprenda o significado dessas informações para a sua vida quotidiana.

Nesta perspectiva, o educador, visto como aquele que tem a possibilidade de mediar esta construção de conhecimento, serve-se da sua mais abrangente vivência, tornando-se capaz de proporcionar a ocorrência de relações de diálogo no espaço quotidiano da escola, estabelecendo, também um nexo entre as culturas e as várias linguagens das crianças. É possível, ainda perceber a diversidade da sala nas diferentes famílias que a constituem, como factor de enriquecimento das potencialidades das crianças e dos movimentos de descobertas.

Escutar atentamente as ideias das crianças constitui-se uma forma de despertar e aguçar o seu interesse pelas descobertas. Para uma aprendizagem eficiente é preciso relacionar estes encontros e ideias em diferentes contextos, possibilitando considerar as características das crianças, os seus conhecimentos próprios e o seu raciocínio.

Em relação às interacções da criança com o meio como forma de encaminhar um processo educativo alicerça-se a ideia de que ninguém é capaz de amar e respeitar aquilo que não conhece. Para tanto, é preciso proporcionar uma aproximação real através das relações quotidianas das crianças com as diferentes realidades das famílias com quem a instituição interage, tornando-os elementos presentes no centro das actividades escolares.

O acto de brincar é natural da criança. Através das brincadeiras, a criança manifesta as suas representações acerca do mundo. Propiciar um espaço para que haja possibilidade de desenvolver esta brincadeira é único das instituições pré-escolares, pois o ambiente no qual a criança está inserida constitui-se como muito importante para o seu desenvolvimento. O processo de desenvolvimento que contempla os aspectos físicos, sociais, afectivos e cognitivos, deve ser enriquecido com oportunidades didático-pedagógicas que considerem a necessidade do indivíduo como mediador das relações entre o imaginário e as construções do real.

Ao longo da história da educação infantil, os seus precursores identificaram nas suas pedagogias, concepções acerca das relações criança, espaço, natureza e do desdobramento das actividades de aprendizagem a partir destas. Defendendo o jogo como forma de manifestação da actividade criadora, Froebel alertou sobre a necessidade do contacto da criança com a natureza. Segundo Kramer (2002, p.26), a sua proposta pode ser caracterizada como um currículo por actividades, onde o carácter determinante da aprendizagem da criança. Decroly valorizava o espaço exterior como fonte de saúde, elemento gerador de curiosidade/conhecimento/aprendizado (ELALI, 2003: p.311), através da sua organização pedagógica a partir dos centros de interesse. Nos trabalhos de Maria Montessori, na sua pedagogia firmada, inicialmente, para crianças portadoras de necessidades especiais e depois expandida para crianças normais, podemos afirmar que a mesma dirigiu as suas construções para o oferecimento de um ambiente apropriado que respeitasse a sua liberdade de acção, criando inclusive um mobiliário e jogos pedagógicos que se adequassem às necessidades infantis. É certo que tais ideais marcaram o centro da educação pré-escolar e até hoje encontramos as suas características nos processos pedagógicos executados. Porém há que considerar que naquele momento pouca importância foi dada ao carácter social e cultural da criança e as suas implicações no processo de aprendizagem. Na teoria cognitivista, aqui representada por Jean Piaget, podemos inferir que as relações da criança com o meio constituem pontos relevantes para o seu desenvolvimento, que é elaborado de acordo com os esquemas de assimilação e acomodação que vá delineando as suas etapas. Durante este processo, torna-se função da escola promover situações diversas em que a criança exercite o processo de equilíbrio, construindo e destruindo os seus conceitos acerca das coisas que a rodeia para efectivar a sua aprendizagem. Neste ideário de Piaget, o desenvolvimento cognitivo tem notável preponderância sobre os aspectos afectivos, sociais e linguísticos (DAVIS, 1994: p.38). Representante da pedagogia crítica, Freinet preconizava a educação pelo trabalho, na qual a criança activa, participante é considerada como sujeito do processo, mantém contacto directo com os objectos da sua aprendizagem: o meio, os materiais e o trabalho (SAMPAIO, 2002: p.17-8). O aprender fazendo é um dos marcos do pensamento Freinetiano no qual a criatividade, a descoberta, o prazer e o lúdico são considerados.

Neste contexto de construção de saberes, entendemos como brincadeira toda e qualquer forma de brincar, como jogo, uma brincadeira com regras estabelecidas, como brinquedo, o objecto utilizado para brincar e a actividade lúdica aquela a que se refere o jogo, brinquedos, brincadeiras, alegria, prazer e a liberdade. Para construir conhecimento e ampliar a compreensão do espaço físico, social e emocional que a rodeia, a criança tem necessidade de vivenciar experiências quotidianas e manipular objectos que, preferencialmente na forma lúdica, a conduzirão para uma aprendizagem eficaz. Desta forma, o brincar e o construir a brincadeira tornam-se actividades muito importantes.

Torna-se importante esclarecer que a actividade lúdica, neste contexto, é percebida como um elemento detonador do processo de desenvolvimento da criança considerando também a aprendizagem. A actividade lúdica e a actividade produtiva devem coexistir no espaço da pré-escola. Desta forma, construir brinquedos, objectos para a brincadeira – constitui-se numa eficiente alternativa para a integração dos conceitos e percepções acerca do meio ambiente e as possibilidades de preservação, incluindo a transformação do lixo doméstico em fonte de prazer e entretenimento, estreitamente associados à acção educativa.

Sem pretender tornar a actividade lúdica como didáctica, vemos no brinquedo uma das possibilidades de oferecer um encontro com a aprendizagem, ampliando o repertório de representações da criança e garantindo um espaço no qual aprender, trabalhar e brincar ocupam, harmoniosamente a mesma dimensão.

Abrimos, então um espaço para trabalhar o Conhecimento do Mundo na escola, nomeadamente o conceito de família e as suas implicações na modernidade. Um fazer que pressupõe aprendizagem, alegria e cidadania.

 

 

5.3 - Avaliação/ Reformulação

O Projecto pedagógico é o guia das actividades lectivas e deverá promover uma aprendizagem globalizante e articulada, adequando as estratégias às características da criança ou grupo de crianças e explorando as suas motivações e interesses.

Caberá ao adulto educador, em articulação com os membros da equipa educativa, observar “intensamente” a criança nas suas acções singulares, na sua evolução como fundamento da diferenciação pedagógica no contexto educativo. Conhecer a criança e a sua família na sua singularidade permitirá obter a base do planeamento do trabalho e da avaliação da criança.

O planeamento do trabalho educativo implica que o educador reflicta sobre as suas intenções educativas e as formas de as adequar ao grupo de crianças igualdade de oportunidades, organizando os recursos humanos e materiais necessários à sua concretização.

A concretização das intenções educativas na acção, implica que o educador as adapte às propostas das crianças, tirando partido de situações e oportunidades imprevistas. A participação de outros adultos – técnicas, pais, outros membros da comunidade – é extremamente importante como forma de alargar as interacções das crianças e enriquecer o processo educativo.

A avaliação do processo e efeitos, implica tomar consciência da acção para adequar ao processo educativo às necessidades das crianças, do grupo e da sua evolução.

A avaliação realizada com as crianças é uma actividade educativa, constituindo também a base de avaliação para o educador. A sua reflexão, a partir dos efeitos que vai observando, possibilita-lhe estabelecer a progressão das aprendizagens a desenvolver com cada criança. Neste sentido a avaliação é suporte do planeamento.

A comunicação e a partilha das informações e conhecimentos adquiridos sobre cada criança e o modo como esta evolui, enriquece o processo educativo pelo envolvimento com os adultos responsáveis pela educação da criança: colegas, auxiliares, pais, familiares.

A articulação entre os ciclos de escolaridade, no sentido de proporcionar as condições para que ela se efective, é também função do educador. A transição para a escolaridade obrigatória em conjunto com a relação estabelecida com as famílias das crianças é condição de promoção da continuidade educativa e de sucesso nas aprendizagens futuras do percurso escolar de cada criança.

 Considerada a avaliação como uma parte fundamental do processo educativo que deve referir-se, não apenas aos resultados alcançados, mas também ao próprio processo, com a finalidade de orientar de forma contínua, tanto o conjunto de crianças, como o corpo docente.

A avaliação das crianças deve reflectir como e quando se produzem os processos de desenvolvimento e aprendizagem e, para isso, tem de fazer parte do próprio processo educativo. Além de contínua e individualizada, tem de ser global: valorizar cada um na sua totalidade e não nas aprendizagens parciais e prolongar-se ao longo de todo o processo educativo.

Por isso, a avaliação do processo de ensino e aprendizagem será global, contínua e formativa. A avaliação inicial terá em conta as características do meio em que a criança vive e partirá da avaliação recolhida anteriormente. A avaliação formativa permitirá ao educador indagar que alterações se verificam como resultado das diferentes intervenções ou que objectivos convenham propor continuar. O educador avaliará também o seu próprio projecto de trabalho, tornando possível uma valorização adequada da sua adaptação e desempenho.

Sem esquecer a incidência dos factores mencionados anteriormente, uma avaliação, nesta fase, deveria ter, entre outras, as seguintes características:

-                Objectiva e fiável, isto é, que possa voltar a ser aplicada;

-                Flexível, que sem perder o seu grau de generalização, respeite o mais possível, as características particulares de cada indivíduo;

-                Prática, utilizando a metodologia mais fácil possível, que permita recolher o maior número possível de informações;

-                Natural e espontânea, sem introduzir alterações, assente numa opinião bem definida do educador, sem influências nem hesitações e pondo de lado os resultados duvidosos: quer sejam bons ou maus.

 

 

Referências Bibliográficas

 

DAVIS, C. & OLIVEIRA, Z. (1994). “Psicologia na Educação”. Cortez. São Paulo.

 

GARCIA, Pedro Benjamim (2002). Paradigmas em crise e a educação. In: BRANDÏ. Zaia (org.). “A crise dos paradigmas e a educação”. Cortez. São Paulo.

 

GIDDENS, Anthony (1991). “As consequências da modernidade”. Unesp. São Paulo.

 

JOSÉ Elias (2004). “Morada do Inventor”. Revista Nova Escola. Abril: v.1. São Paulo.

 

Ministério da Educação (1997) “Orientações Curriculares para Educação Pré-Escolar”. Ed. Departamento da Educação Básica – GEDEI.

 

Ministério da Educação (1997) “Qualidade e Projecto na Educação Pré-Escolar”. Ed. Departamento da Educação Básica – GEDEI.

 

PIAGET, J. (1972) “Inconsciente Afectivo e Inconsciente Cognitivo” Forense. Rio de Janeiro.

 

PORTUGAL, G. (1992) “Creches, bebés e desenvolvimento: uma questão já antiga...”. Cadernos CIDInE, nº3. Aveiro.

 

SAMPAIO, Rosa Maria Whitaker (2002). “Freinet: evolução histórica e actualidades”. Scipione. São Paulo.

 

SEBER, Maria da Glória (1995) “Psicologia do pré-escolar: uma visão construtivista”. Moderna. São Paulo.

 

WAJSKOP, Gisela (2001) “Brincar na Pré-Escola”. Cortez. São Paulo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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